
O FOGO
O Fogo é elemento material da transmutação radical, dialetizando-se na confluência de duas valorações opostas entre bem e mal: o Fogo é casto e lúbrico; arde no inferno, brilha no céu. O sonhador do fogo almeja a transcensão, a mudança categônica.
A completa desintegração pelas chamas é condição indispensável para o renascimento, para a ressurreição. Deste princípio básico da poética do fogo, podem-se depreender dois complexos: (i) Complexo de Empédocles, em que o fogo funciona como o agente de transmutações, como o dispensador da morte total, que vai garantir a integridade na partida para a outra vida; e (ii) Complexo de Novalis, em que o fogo funciona como o calidum inatum, como o bem supremo que só se concede ao ser eleito.
A luz da chama é o motor dinâmico que determina o ser vertical e transcendente do fogo. A luz é não o símbolo angelical da pureza, mas o agente passional da purificação. O sonhador do fogo deve-se impor à horizontalidade da vida, ininterruptamente reacendendo a vontade de inflamar-se, de entusiasmar-se, de ultrapassar os limites impostos pelo próprio corpo. O ser só se liberta quando se extingue, para re-generar-se.
A ÁGUA
A Água é legenda do ser cuja essência consiste em desformar-se. A Água aparece como elemento transitório, como uma metamorfose ontológica e essencial entre o fogo e a terra, participando de uma espécie de destino de queda, de morte cotidiana, de sofrimento infinito. Assim como o Rio, que se transmuta à viagem das águas, o homem se transmuta à viagem das horas, constituindo as seguintes imagens isomórficas: homem/rio, tempo/águas, vida/viagem.
Segundo Bachelard (2002: 7), o sonhador da água é “um ser em vertigem, um ser que morre a todo instante, um ser que deixa desmoronar algo de sua substância constantemente”. A poesia da água é a metapoética da morte – a beleza só é possível mediante a morte; a morte só é bela mediante a água. É no ambiente aquático que se dão os Complexos de Caronte e de Ofélia. No primeiro, verifica-se a faceta macabra e horripilante da morte, visto que a barca conduz inapelavelmente a um Inferno. Segundo Bachelard (2002: 77), atirar-se ao mar é mais que uma espécie de desafio que a morte oferece, é a vontade de correr esse risco:
"A morte é uma viagem e a viagem é uma morte. Partir é morrer um pouco. Morrer é verdadeiramente partir, e só se parte bem, corajosamente, nitidamente, quando se segue o fluir da água, a corrente do largo rio. Todos os rios desembocam no Rio dos mortos. Apenas essa morte é fabulosa. Apenas essa partida é uma aventura."
No segundo, verifica-se o caráter sedutor e fascinante da morte, visto que morrer é um convite ao doce aconchego do ventre materno. No Complexo de Ofélia, parece haver uma inclinação muito maior à morte pelo suicídio, como forma de fugir às inconsistências da vida terrestre:
"A água é o elemento da morte jovem e bela, da morte florida, e nos dramas da vida e da literatura é o elemento da morte sem orgulho nem vingança, do suicídio masoquista. A água é o símbolo profundo, orgânico, da mulher que só sabe chorar suas dores e cujos olhos são facilmente afogados de lágrimas. O homem, diante de um suicídio feminino, compreende essa dor funérea por tudo o que nele, como em Laertes, é mulher. Volta a ser homem – tornando-se outra vez seco – depois que as lágrimas secam."
Da Poética da Água, pode-se depreender a seguinte equação: Contemplar as águas é equivalente a dissolver-se, escoar-se, morrer – toda água leve se entorpece, toda água clara se ensombrece, toda água viva perece. A água á a matéria plácida da formosa morte; o morrer, aspiração encoberta do devaneio poético, se dá em dois níveis: (i) superficialmente, em que o reflexo desmaterializa a realidade imperfeita, a fim de realizar a idealidade perfeita; e (ii) profundamente, em que a água oferece um abrigo ao imenso sofrimento humano, constituindo um irrecusável convite ao fim.
Como outrora fora dito, por alguém muito querido, Quem fala de tudo em nada se aprofunda. Sendo assim, o trabalho aqui apresentado pretende embasar-se neste último elemento, como doador de vida e dispensador de morte.
O Fogo é elemento material da transmutação radical, dialetizando-se na confluência de duas valorações opostas entre bem e mal: o Fogo é casto e lúbrico; arde no inferno, brilha no céu. O sonhador do fogo almeja a transcensão, a mudança categônica.
A completa desintegração pelas chamas é condição indispensável para o renascimento, para a ressurreição. Deste princípio básico da poética do fogo, podem-se depreender dois complexos: (i) Complexo de Empédocles, em que o fogo funciona como o agente de transmutações, como o dispensador da morte total, que vai garantir a integridade na partida para a outra vida; e (ii) Complexo de Novalis, em que o fogo funciona como o calidum inatum, como o bem supremo que só se concede ao ser eleito.
A luz da chama é o motor dinâmico que determina o ser vertical e transcendente do fogo. A luz é não o símbolo angelical da pureza, mas o agente passional da purificação. O sonhador do fogo deve-se impor à horizontalidade da vida, ininterruptamente reacendendo a vontade de inflamar-se, de entusiasmar-se, de ultrapassar os limites impostos pelo próprio corpo. O ser só se liberta quando se extingue, para re-generar-se.
A ÁGUA
A Água é legenda do ser cuja essência consiste em desformar-se. A Água aparece como elemento transitório, como uma metamorfose ontológica e essencial entre o fogo e a terra, participando de uma espécie de destino de queda, de morte cotidiana, de sofrimento infinito. Assim como o Rio, que se transmuta à viagem das águas, o homem se transmuta à viagem das horas, constituindo as seguintes imagens isomórficas: homem/rio, tempo/águas, vida/viagem.
Segundo Bachelard (2002: 7), o sonhador da água é “um ser em vertigem, um ser que morre a todo instante, um ser que deixa desmoronar algo de sua substância constantemente”. A poesia da água é a metapoética da morte – a beleza só é possível mediante a morte; a morte só é bela mediante a água. É no ambiente aquático que se dão os Complexos de Caronte e de Ofélia. No primeiro, verifica-se a faceta macabra e horripilante da morte, visto que a barca conduz inapelavelmente a um Inferno. Segundo Bachelard (2002: 77), atirar-se ao mar é mais que uma espécie de desafio que a morte oferece, é a vontade de correr esse risco:
"A morte é uma viagem e a viagem é uma morte. Partir é morrer um pouco. Morrer é verdadeiramente partir, e só se parte bem, corajosamente, nitidamente, quando se segue o fluir da água, a corrente do largo rio. Todos os rios desembocam no Rio dos mortos. Apenas essa morte é fabulosa. Apenas essa partida é uma aventura."
No segundo, verifica-se o caráter sedutor e fascinante da morte, visto que morrer é um convite ao doce aconchego do ventre materno. No Complexo de Ofélia, parece haver uma inclinação muito maior à morte pelo suicídio, como forma de fugir às inconsistências da vida terrestre:
"A água é o elemento da morte jovem e bela, da morte florida, e nos dramas da vida e da literatura é o elemento da morte sem orgulho nem vingança, do suicídio masoquista. A água é o símbolo profundo, orgânico, da mulher que só sabe chorar suas dores e cujos olhos são facilmente afogados de lágrimas. O homem, diante de um suicídio feminino, compreende essa dor funérea por tudo o que nele, como em Laertes, é mulher. Volta a ser homem – tornando-se outra vez seco – depois que as lágrimas secam."
Da Poética da Água, pode-se depreender a seguinte equação: Contemplar as águas é equivalente a dissolver-se, escoar-se, morrer – toda água leve se entorpece, toda água clara se ensombrece, toda água viva perece. A água á a matéria plácida da formosa morte; o morrer, aspiração encoberta do devaneio poético, se dá em dois níveis: (i) superficialmente, em que o reflexo desmaterializa a realidade imperfeita, a fim de realizar a idealidade perfeita; e (ii) profundamente, em que a água oferece um abrigo ao imenso sofrimento humano, constituindo um irrecusável convite ao fim.
Como outrora fora dito, por alguém muito querido, Quem fala de tudo em nada se aprofunda. Sendo assim, o trabalho aqui apresentado pretende embasar-se neste último elemento, como doador de vida e dispensador de morte.
Gostei do texto sobre o fogo. Obrigado!
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