Leskov é um narrador (um “storyteller”), não um romancista. Romancista é Proust, o homem isolado da sociedade que procura destilar o “sentido de uma vida”. Leskov está próximo do trabalho artesanal – chega a afirmar em carta que “a literatura é um trabalho manual”.
O argumento de Benjamin é muito simples e poderoso: a capacidade de contar histórias está diminuindo cada vez mais, e com ela a possibilidade de trocar nossas experiências. O narrador é essa figura de um passado que vai ficando cada vez mais para trás. Em contraposição à narração, com suas “múltiplas camadas transparentes”, Benjamin coloca a informação. “Cada manhã recebemos notícias de todo o mundo. E, no entanto, somos pobres em histórias surpreendentes. A razão é que os fatos já nos chegam acompanhados de explicações.”
Seja no arquétipo do agricultor que residiu sempre no mesmo lugar e é dotado da sabedoria do passado, seja no marinheiro que viajou por todo o mundo e goza da sabedoria do distante, o narrador é dotado da capacidade de dar conselhos, prática que envolve a sugestão de como continuar uma história mais do que dizer o que fazer. A narração é o espaço da memória, “a mais épica das faculdades”. O contrário do narrador é o homem capaz de comentar qualquer coisa, desde que não dure mais do que um instante.
Na narrativa se imprime a experiência do narrador, “como as mãos do oleiro na argila do vaso”. Com a “queda das ações da experiência” vai-se a capacidade de contar histórias, o que por sua vez tranca cada vida vivida em si mesma, esgarçando a comunidade.
(Fonte:http://ldopaeditora.wordpress.com/2009/10/17/narrador-leskov-benjamin/)
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